Para os opositores, a rede abastecida pela Delta Construções para doações eleitorais ilegais é semelhante ao esquema do mensalão
José Cruz/ABr
Álvaro Dias, líder do PSDB: "há semelhança gritante entre o que já
foi divulgado a respeito da Delta com o que apuramos ao investigar o
mensalão"
Brasília - Passados seis anos do fim da CPI dos Correios, lideranças da
oposição identificaram no "deltaduto" - rede abastecida pela Delta Construções
para doações eleitorais por meio de empresas de fachada do grupo do contraventor
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira - esquema semelhante ao utilizado
pelo empresário Marcos Valério para enviar dinheiro aos partidos aliados ao
governo, o que deu origem ao escândalo do mensalão.
Diante das evidências do esquema, a oposição já se mobiliza para tentar
aprovar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, criada nesta
quinta, requerimentos para que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf) envie ao Congresso toda a movimentação bancária da Delta e de seu dono, o
empresário Fernando Cavendish. "Há semelhança gritante entre o que já foi
divulgado a respeito da Delta com o que apuramos ao investigar o mensalão",
disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).
O "deltaduto", como revelou ontem o jornal O Estado de S. Paulo, irrigou a
campanha do tucano Marconi Perillo ao governo de Goiás. Mas, como a empresa atua
nacionalmente e o grosso de seus contratos é com o governo federal e com o
Estado do Rio - cujo governador, Sérgio Cabral (PMDB), é aliado do Planalto -, a
oposição enxerga potencial de desgaste na operação.
Indicações
Os partidos têm até terça-feira, dia 24, para indicar os nomes dos
parlamentares que integrarão a CPI, que deverá ter sua primeira reunião na
quarta-feira, dia 25, quando será eleito o presidente e escolhido o relator. O
favorito para a presidência é o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O relator é
nomeado pelo presidente após acordo. O cargo é disputado por petistas, sendo
Odair Cunha (MG) o favorito.
Além de requerimentos ao Coaf, a oposição também se prepara para pedir a
quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Cavendish e da Delta, de
seus sócios e de supostos laranjas. Já os governistas pregam cautela. Defendem
que, antes de qualquer convocação ou aprovação de requerimento, seja feita a
análise dos documentos produzidos pelas operações Vegas e Monte Carlo, ambas da
Polícia Federal.
"Não é preciso pressa. Temos de ver os documentos da PF e assim fazer nossa
programação", disse o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA). "Não pode ter
pirotecnia. Não pode chamar já na primeira semana o dono da Delta", disse o
líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP). "Temos de conhecer primeiro
os documentos que já existem", argumentou.
O temor dos aliados é o de que a CPI acabe "drenando a energia" do Parlamento
e, assim, deixe de lado a apreciação de projetos considerados importantes pelo
Planalto. "A gente não vai cometer o erro", disse o líder do governo na Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP). "É preciso ter atitude sóbria de ambos os lados e não
pode haver vazamento seletivo de informações", afirmou. "Os envolvidos é que têm
de se defender." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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