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domingo, 17 de junho de 2012

Gustavo Fruet: ‘Negar o mensalão do PT é tentar negar os fatos’ #Politica #Veja

O ex-deputado tucano hoje no PDT lembra os momentos de tensão que viveu como sub-relator da CPI dos Correios. E fala da aliança que costura com o PT

Carolina Farina
Fruet: condenação de mensaleiros será golpe na impunidade
Fruet: condenação de mensaleiros será golpe na impunidade (Caio Guatelli/Folhapress)


á sete anos, era instalada do Congresso a CPI dos Correios, a primeira das três que se debruçariam sobre o esquema do mensalão – e a única delas a não terminar em pizza. E se aproxima o dia em que o Supremo Tribunal Federal dará início ao julgamento daqueles que, em 2007, a Procuradoria-Geral da República denunciou como integrantes da quadrilha. A proximidade do desfecho do caso deixa ansioso o paranaense Gustavo Fruet, sub-relator da comissão de movimentação financeira do colegiado. Afinal, os trabalhos da CPI contribuíram – e muito – para a denúncia enviada ao Supremo pelo então procurador Antonio Fernando de Sousa. “Será o julgamento mais importante depois da Constituição de 1988”, afirma Fruet, que está confiante na condenação dos mensaleiros. “Será um passo importante contra a impunidade”.
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Os trabalhos da CPI dos Correios tiveram início em junho de 2005, a despeito da mobilização do Planalto. Inicialmente, a comissão se destinaria a investigar o esquema de corrupção reinante nos Correios e demais estatais sob influência do PTB. “Não tínhamos noção da extensão do escândalo”, relembra Fruet. Os rumos da investigação mudaram a partir da entrevista em que Roberto Jefferson, presidente do PTB, narrava ao jornal Folha de S. Paulo os detalhes do mensalão, um gigantesco esquema que abastecia com 30 000 reais mensais a conta de qualquer deputado disposto a votar a favor de projetos de interesse do governo.
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Como deputado do PSDB, Fruet destacou-se como um dos principais nomes da oposição na época das investigações. Durante a CPI, foi sub-relator da comissão que descobriu as contas que abasteceram o duto de dinheiro que o petismo inventou para subornar deputados. “Tínhamos em mãos não apenas provas testemunhais, mas indícios que foram suficientes para a abertura de investigações posteriores na Polícia Federal e no Ministério Público. Não à toa houve tantas consequências dentro do Congresso, como três cassações”, afirmou Fruet em entrevista ao site de VEJA. Perderam os mandatos o então todo-poderoso José Dirceu, além de Roberto Jefferson e Pedro Corrêa.
Hoje, Fruet, que já foi um dos principais nomes do PSDB no Congresso, é pré-candidato à prefeitura de Curitiba pelo PDT – e costura alianças na capital paranaense justamente com o PT. Fruet não foi eleito senador pelo Paraná em 2010 e, após perder espaço entre os tucanos para disputar a prefeitura de Curitiba, resolveu deixar o partido. Repetiu, assim, ato de 2004, quando, sem espaço dentro do PMDB, migrou para o PSDB. As atuais articulações com antigos rivais, contudo, não o fizeram esquecer o que concluiu na CPI: “Tentar negar o mensalão é negar os fatos. Se aquelas movimentações financeiras de Marcos Valério não serviram para o pagamento de deputados, para quê serviram?”
Se antes mesmo da instalação da CPI o governo já atuava contra os trabalhos, a pressão foi se intensificando à medida que o escândalo atingia mais e mais figuras de proa do PT. No colegiado, a base aliada dificultava a aprovação de requerimentos, sobretudo os que pediam a convocação de testemunhas-chave para as investigações. Afinal, se alguns parlamentares ignoravam inicialmente a dimensão do que tinham em mãos, o Planalto sabia exatamente o risco que corria. O governo, porém, não conseguiu impedir todas as convocações. E um depoimento em especial acabou por espalhar entre os parlamentares a ideia de que o escândalo poderia culminar no impeachment do então presidente Lula, relembra Fruet. Trata-se do depoimento-bomba do publicitário Duda Mendonça.
Em 11 de agosto de 2005, Duda admitiu ter recebido milhões do caixa 2 do PT, via Marcos Valério, nas Bahamas. “A partir dali, a ideia de impeachment começou a ficar cada vez mais real”, afirma Fruet. “Foi o momento mais tenso de toda a CPI”. Embora o presidente tenha se mantido no cargo, Fruet salienta que o escândalo acabou por mexer na estrutura do governo: parlamentares poderosos perderam a força política no Congresso, ministros perderam seus cargos e Dilma Rousseff acabou assumindo a Casa Civil.
E hoje? Formar uma aliança com os petistas, não soa estranho? “Sempre fui cuidadoso, nunca desqualifiquei ninguém pelo que quer que fosse. Minha postura nas investigações não foi irresponsável, o que até ajuda a dar credibilidade para um diálogo hoje. De maneira alguma nego minhas convicções e o que foi dito. Na CPI, fizemos um trabalho importante para o Congresso e o governo”.

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